Consentimento informado: como o médico deve se resguardar

Consentimento informado medico

Imagine que você vai embarcar em uma viagem de avião. Antes da decolagem, o comandante explica as rotas, os possíveis imprevistos e os procedimentos de segurança. Você embarca sabendo dos riscos, ainda que mínimos. O consentimento informado na medicina funciona da mesma forma: é a comunicação clara entre médico e paciente sobre o que será feito, os riscos envolvidos e as alternativas disponíveis.

Mais do que um simples papel assinado, o consentimento informado é uma ferramenta de proteção jurídica para o médico e, ao mesmo tempo, de respeito à autonomia do paciente.


O que é consentimento informado?

O consentimento informado é o ato pelo qual o paciente, após receber explicações claras do médico, autoriza a realização de um tratamento, exame ou procedimento.

Segundo o Código de Ética Médica e a jurisprudência brasileira, o paciente deve ser informado sobre:

  • Diagnóstico e finalidade do tratamento;
  • Procedimentos a serem realizados;
  • Riscos e complicações possíveis;
  • Alternativas de tratamento;
  • Consequências da recusa.

Sem essas informações, a autorização pode ser considerada inválida.


Por que é tão importante?

  1. Protege o médico juridicamente
    • Documentar que o paciente estava ciente dos riscos evita alegações de “falta de informação” em ações judiciais.
  2. Fortalece a relação médico-paciente
    • Quando há transparência, a confiança aumenta.
  3. Respeita a autonomia do paciente
    • O paciente tem direito de escolher ou recusar um tratamento, desde que tenha pleno conhecimento das consequências.

Como deve ser elaborado o termo de consentimento?

Um bom termo deve ser:

  • Claro: sem jargões técnicos incompreensíveis.
  • Personalizado: adaptado ao caso concreto, evitando modelos genéricos.
  • Completo: incluir diagnóstico, riscos, benefícios e alternativas.
  • Assinado: pelo paciente (ou responsável legal) e, preferencialmente, pelo médico.

O que a jurisprudência diz?

Os tribunais têm reforçado a importância do consentimento informado. Em ações de responsabilidade civil, a ausência do documento é frequentemente interpretada em desfavor do médico.

  • STJ: já decidiu que o consentimento informado é essencial, principalmente em procedimentos invasivos ou estéticos.
  • Casos práticos: quando há termo assinado e devidamente explicado, a tendência é que o médico seja absolvido de responsabilidade por complicações previsíveis.

Erros comuns a evitar

  • Usar termos padronizados sem adaptação ao caso específico;
  • Colher assinatura sem explicar verbalmente o conteúdo;
  • Esquecer de registrar no prontuário que a conversa ocorreu;
  • Não fornecer cópia ao paciente.

Essas falhas podem anular o valor do documento em eventual processo.


Consentimento informado em tempos digitais

Com a popularização da telemedicina, o consentimento também pode ser obtido de forma digital, desde que respeitados os requisitos de validade (assinatura eletrônica, registro seguro, linguagem acessível).

Isso amplia as formas de documentação e oferece ainda mais segurança ao médico.


Conclusão

O consentimento informado é mais do que uma formalidade burocrática: é a linha tênue entre segurança e risco jurídico na prática médica.

A reflexão que deixo é: se o paciente tem o direito de saber, por que o médico abriria mão de documentar que informou?

No fim, o consentimento informado é um aliado — protege o paciente em sua autonomia e protege o médico de acusações infundadas.

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